29 de dez. de 2013

Raspão



Uma tremedeira no corpo e tudo fica oco.
Um coração bambo lá dentro
batendo nas paredes 

Coiseira da vida.



Neusa Doretto

" elementos "






Parece terra quando me vê
Treme toda
Deita no meu leito

Dá-se a enchente


Neusa Doretto

23 de nov. de 2013

Abraço






















Abraçar é quente. Chumaço de algodão. Calor da palma da mão no rosto. 
O abraço toma posse daquilo que não se vê. Mas se sabe o que é. 
O abraço é dono do tronco e se apodera fisicamente . Mas é um fisicamente tão irrestrito que parece alma. infinito.
Abraço: alongamento da emoção. Abraço. Abraço. Abraço. 
Eu esqueceria o beijo e o vão das pernas por um abraço.Os olhares e os sorrisos, eu esqueceria. Porque tudo isso viria dentro de um abraço. Demorado. Apaixonado, largado e cheio. 
O Abraço é o melhor do corpo porque contém o corpo todo.
E tudo nele está contido: a saudade e a demora do desejo.
Abraço é melhor que o beijo que dura 10 segundos. Num abraço, nos perdemos do mundo   .Abraço. Abraço. Abraço.



Neusa Doretto

22 de out. de 2013

mudança




mudei eu
mudou você

                   [mudamos nós
                    ou o meio em que nos moldamos
                    se acomodou?]

e o poema
que nos so[nh]ava

 emudeceu


 valéria tarelho
*poema provocado pela imagem acima, de Clarice Freire, do 'pó de lua']

5 de out. de 2013

" Avenida Anchieta "


Eu me abrigava na rede . Sentia tanta proteção,ali,enrolada naquele tecido forte e xadrez. 
Não havia frio,nem calor. Havia aconchego,esconderijo. Dias em que eu fugia do mundo. 
Noites em que eu acreditava no amor. 

O amor me salvaria,sustentaria e traria a felicidade para mim. 
E a rede entendia o meu coração.Indo e vindo. 
O balanço  me jogava aos braços de Beatriz e de Jacques Brel. 

Não me deixes mais. O Remy Martin e  o Pacco Rabane impregnavam,delicadamente, cada ponto da rede.
Não precisava de mais nada naquela casa. A rede e  os meus sonhos ocupavam todos os cômodos,esplendidamente vazios. Minha rede,meu reino forte. Meu  amor até a morte.

Neusa Doretto

29 de set. de 2013

" Lávocê "

Se tudo se transforma
do estado líquido
em que estamos
O gasoso
pode
envolver
num perfume
e
o
sólido
dar
um
prazer
e
um
certo
volume!

Neusa Doretto

21 de set. de 2013

Torpor

















Tonta de amor
trêmula a teus pés. 
Sou pouca.

Sequer tateio tua tez tirana
Sequer fico sob teu teto
Mas
Tudo em mim é tanto
perto de ti

Que desafeto
partir !

Neusa Doretto

15 de set. de 2013

" Aro "













É pelo  olho que
tudo entra
pelo olho que se inventa  a ilusão
É pelo olho que se dá
A locomoção
a mudança de uma opinião
É pelo olho que  se joga ou se  acomoda
qualquer intenção
O olho é veloz
É roda
E
canta como pneu
quando
bate
no
seu




Neusa Doretto

2 de set. de 2013

" Sinopse "



Passei por aqui e você não havia chegado ainda.
Pensei ter ouvido seus passos um dia desses. Devo estar ansiosa com essas pessoas passando pela minha vida. E você não passa. Não veio ainda. Deve estar acabando um amor que durou a vida inteira. Pela demora, deve ser isso. 


Neusa Doretto



20 de jul. de 2013

" de repentemente "





...E até aquele amor que não deu certo
Foi a coisa mais certa que eu tive
Meu Deus,se não é por amor,
porque é que se vive?

Amor a tudo
Ao acordar e ter o bucho farto
Ao dormir no calor do quarto

Amor pela existência
Pela graça cedida e rimada
que registra a aventura da vida
Mais nada!

Neusa Doretto

4 de jul. de 2013

Abraço





Eu levo um tombo na rua ou um carro quase me pega. Quase eu me arrebento ou vou dessa pra outra. O susto endurece meu rosto, engrossa minha circulação. Eu  não sinto os pés de tanto nervoso. Quero chegar em casa, tirar a roupa, e perguntar pra alguém se me machuquei muito. Fico angustiada porque queria chorar para passar o medo, chorar abraçada . É nessa hora que eu preciso de um amor, pra abrir a porta de casa e  falar: olha ,quase morri, me abraça.

_Neusa Doretto

26 de jun. de 2013

Largura


Eu, um céu aberto comigo
O grande amor é o umbigo
e a despreocupação de ser.




18 de jun. de 2013

" Frisson "


  • Tudo ficou fora de lugar, de repente, as coisas voando para o infinito que ela não conseguia segurar.
    E voavam com a intensidade dos sentimentos mais frescos e abruptos.
    Um caroço de pêssego, furando sua carne macia, descendo pela garganta larga que não cansava de salivar. Mais que isso, de engolir sensações  novas. Aquele desejo.
    Um pano segurando a boca e as palavras saindo às cegas, quase sem susto,porque cegos sabem por onde andam, sentimentos também. Conhecem todos os pontos do itinerário.
    Nada mais pousa e tem controle.
    E é assim, subitamente e há milhares de anos,que os corpos se querem.
    Neusa Doretto

15 de jun. de 2013

poderes




 Não quero Super Mulher. 

 Nem Mulher Gato.

 
 Quero um Super Amor

 
 Que vista a capa do cotidiano


 Com Poderes do Beijo de Café



Neusa Doretto

8 de jun. de 2013

Namoro



Quem sabe o amor me aparece
numa hora de descuido
e eu nem perceba tudo
o que carrega
no olhar
e cega 
eu 
o
deixe passar


Neusa Doretto

29 de mai. de 2013

Bobagem


Comenta
A  receita batida
O bolo de fubá

Ri da paixão untada
Da vida que segue
Que ontem era triste
Que hoje está mais leve 
A boca mastiga 
Derrete o alimento
-Tão bom ser ela
-'Pra que tanto pensamento ...?







23 de mai. de 2013



















Minha palavra hoje
só ladra
não fere
seduz
ou corteja


minha palavra hoje
vermelho
lateja...

15 de mai. de 2013

Pedras





Pedras não me machucam
Não me impedem
Pelo contrário são rastros para as que me seguem

Que rolem
Que virem pó
porque nunca estou só!

8 de mai. de 2013

25 de abr. de 2013

 OCOS




Tenho muitos ocos
dentro de mim
alguns abismos
e porteiras fechadas


atrás de meus olhos
há uma vertente
que, vez ou outra inunda
minhas noites gélidas e estéreis


então lanço vôo
borboleta de asas cansadas
silencio
azul profundo...





24 de abr. de 2013

prefácio


















Amor:
se der
ceder
me
dando
Na
histeria da lua cheia
Meia e nova
quente
na sua alcova

Neusa Doretto


17 de abr. de 2013

O céu e eu


O céu e eu

O céu aberto esquece a noite nublada e fala das estrelas.
O Outono se pendura nelas como pano seco, balançando na vida.

E me parece que resolvi tudo
Que nada mais há para fazer
senão
ser
docemente ser
felizmente
ser 



Neusa Doretto

10 de abr. de 2013

Junte-se a isso


































Preciso
Dos vernissages
Das passagens para um sétimo céu
ou sétima arte
Que não se parte
Preciso da tez
De uma única vez
Do Frisson 
Do Desembrulho
Da Surpresa Da leveza
Histeria da lua cheia
Meia e nova
Preciso da alcova
da Paixão Elegante
Prioritária
Sedentária em mim.



5 de abr. de 2013

À BRASILEIRA


LOTADO
dizia a placa.
Desejei não saber ler
e invadir o espaço vago
que via além da barreira.
Mas, li, entendi e dei a volta,
como boa cidadã brasileira.


Primeira estrofe de À BRASILEIRA de Chris Ritchie,
poema em 5 estrofes publicadas semanalmente.

4 de abr. de 2013

CONFISSÃO
















À noite
minha saudade é mais aguda
fere à unha
dentada profunda


meus olhos viram musgo
mofados de lembranças
úmidos escorrem
pela madrugada
frios
como uma lápide.

3 de abr. de 2013

Ventura
























Passa o tempo
Passa a dor
Passa a vida dentro do passo.

Paro. Olho. Crio laços.
Penso em ti:

Tens o olhar que acolhe
o meu beijo num gole
O gesto, a palavra
tudo que lava
meu coração



(imagem de Xenia Antunes)

1 de abr. de 2013

ora pílulas



se o poeta
finge dor
o poema
forja
uma fuga
da morfina

metáfora rima
& heterônimas
aspirinas

o poeta
- pessoa -
tanto mente
quanto sente


valéria tarelho


*imagem de Bruno Rodrigues

29 de mar. de 2013

DESNOVELO


No emaranhado arrumadinho
do fio em novelo, num extremo
puxo a ponta e vou marcando
o caminho, enquanto do outro
me contorço e escarafuncho
para ficar no meio do miolinho.


22 de mar. de 2013

SELVAGEM


Se pudesse escolher
Eu ia ser só animal,
Viver sem culpa,
Matar e morrer
Num dia de sol.


Trecho de Selvagem, de Chris Ritchie

21 de mar. de 2013


"Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
Não respondas 
Às urgentes perguntas 
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz 
Assim, 
Já tão longe de ti como de mim.
Ouvir de novo a tua voz seria 
Matar a sede com água salgada!"(Miguel Torga)

15 de mar. de 2013

FENÔMENO


 
Neve na lava
Faz tssssssss,
Evapora e ela,
A lava, segue,
Devora e ele,
O solo, ferve,
Carboniza
Cinza e neve.
Neva leve,
Branca sangra.
Vermelho
Escorre,
Cchhchapéu.
Ar e terra,
Estratosfera,
Céu.
Dentro e fora,
Bela e fera,
Eu.

14 de mar. de 2013

GUARDA-NOTURNO




Solitário
só a lua acompanha
os sussurros da noite
e seus passos lentos,
tudo veste negro


o apito
sibila e avisa
o branco do olho do gato
e espreita cada esquina,
o perigo não tem rosto
roça quente a língua do abismo

13 de mar. de 2013

Pra fazer bem feito.



Andava querendo fazer com alguém. Fazer qualquer coisa. Fazer café, fazer almoço, fazer amor.  Fazer junto. Fazer . Fazer omelete. Foi pra esbornia e  achou alguém pra fazer.

O copo é um grande coletivo e o DJ caprichava .
 - " Mora Sozinha?"
 Olhou bem para aquele alguém
-"Vamos tomar um café?"
-Vamos,sim, na padaria.

Depois no trajeto pra casa, beijou,beijou,beijou. Pegou,pegou,pegou.

-Vai me convidar pra entrar?
-Não.
-Por que?
- Tu já fez no meio do caminho.
- Só pra completar, conhecer melhor.....
- Melhor o quê? já conheceu meu beijo e minha pegada. Quer conhecer melhor a minha vida, pra que?
Companhia é bom pra fazer. Fazer bagunça, fazer pergunta, fazer hora. Todo mundo quer fazer e continuar fazendo. Que coisa: o bom é fazer e deixar bem feito.

Neusa Doretto

8 de mar. de 2013

EXPECTANTE


Nada vence a expectativa
De um investimento,
Uma aposta lotérica,
Um embrulho dourado.

Qualquer evento perde
Para o amor declarado,
Mas ele sem resposta
É um imbróglio danado.